quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Meus pêsames

Pena foi do seu capricho
Que jogou pro alto a felicidade
Que não deu crédito a saudade
E hoje amarga o desperdício

Pena foi o que eu senti
Pela criança que estendia as mãos
Pelo troco que ela esperava receber
Para saciar a sua sede de infância

Pena foi do fruto ainda verde
Que cutucado com vara curta
Caiu de insistência
Nas mãos daqueles moleques de rua

Pena eu senti de mim
Assistindo à TV
Enquanto pessoas comuns erguiam a voz e os braços
Protagonizando a dor e o caos também em meu nome

Pena eu senti de nós
Dessa fragilidade que consome
Do poderio que enlouquece
Da ingenuidade que preservamos
Quando ainda achamos que somos alguma coisa

terça-feira, 10 de abril de 2012

Anti-herói

Ele viu o dia amanhecer pedindo para esquecer a bala que lhe feriu
Implorando para que se estancasse a abertura indômita que incomoda e lateja
Pedindo para a lua voltar só mais um pouquinho,
Antes que o campo de batalha se escurecesse,
Antes que perdido ele visse o breu e tateasse lugares
Lá longe, ele vinha pisando em britas
Já sem armas, sem forças, sem nada
Saquearam-lhe a coragem e o viço.
Na vertigem, tudo era sangue
Ele era um homem só no caminho
Um homem a espera do primeiro raio
Um raio que vinha para ele próprio se ver ferido e perdido
Num caminho que ele não sabia para onde ia
E ele apenas caminhava

segunda-feira, 19 de março de 2012

O Viajante

Eu vou indo. Cheio de expectativa, excitação e receio. Estou de cara com o medo, com o desconhecido e seus segredos. Se me assusto, só o coração dispara, porque os pés continuam firmes ou pelo menos dispostos a caminhar.
Entro cru, mas, sobretudo, entro nu.
Vou preparado para receber a vestimenta que o rei ou o andarilho têm a me oferecer.
Na vontade, conto dias
Mas na saudade, sei que contarei horas.
Tudo é útil e vale a sua lágrima.
Tudo é singular e cabe eu olhar.
Na boca, as palavras que aprendi e que guardei. Mas chego sem nada, sem diálogos prontos, sem a apuração com a qual me avaliaram.
Porque no bom papo as coisas fluem e quem controla a conversa é quem escuta.
Sou de longe, eu sou de lá.
Da terra do sabiá, do fulano que sabe jogar, da mulata que sabe sambar;
De um povo que vive a sonhar, a prosear, a sorrir, a sofrer e a não ligar;
Sim, eu sou de lá.
Tudo, eu sei, será meio impactante. Até mesmo o sacolejar suave dos trens super rápidos que de uma estação a outra me farão experimentar da exultante organização e comodidade.
Em ruelas, distraído, quero caminhar contemplando as folhas secas caídas que ainda ei de pisar.
Em frente a monumentos que enunciam exuberância e graciosidade, não importando o estilo de seus criadores, eu quero fitar a história.
Não quero decorar suas placas e descrições, mas imprimir em mim as minhas próprias.
E o momento de registro se completará com a fotografia, que em grande parte resultará da boa vontade de mãos alheias. E dali, quando pouco, espero que fique o agradecimento. Mas não hesitarei a me render a uma boa conversa no restante do percurso, a um contato mais íntimo em um Café, a um troca de gostos, de culturas, de sorrisos, de línguas...

Estou de malas prontas. Mas o necessário não está ali.
O indispensável eu levo na minúcia do pensamento: a força de um desejo, a certeza de que tudo que posso ver e saber ainda não serão nada e de que vou pequeno, para voltar menor ainda
Porque infinitos são os caminhos ao redor do mundo. Um deles é o meu.
E Infinitas são as histórias de uma humanidade inteira e dos filhos teus.
Numa viagem é preciso saber o gosto de ir e de voltar.
De revisitar e de rememorar.
É preciso perspicácia para ver e contemplar maravilhas a luz do sol e a luz da lua.
É preciso percorrer distâncias ou não percorrer nada.
Porque viajar é a atividade do experimentar, do deixar-se ir continuamente
Do colocar o pensamento a serviço sempre das regalias, das travessuras e dos anseios daquilo que trazemos de mais lindo no peito: a vontade de ser.
Por isso, o verdadeiro viajante nunca se perde; ele descobre sempre novos lugares.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

O Círculo

Aquele vão
De frente à porta do sim e do não
Toda escolha predispõe renúncia
E um bocado de solidão

Não há nada que nunca se revele
Que vague ad eternum no mundo dos esconderijos
Uma boca que fala, um olho que vê, um coração que sente
E tudo chega até você

Pra que falar de amor
Se quem eu amo não pode ler?
Pra que curar a dor
Se de todo jeito se vai morrer?
Pra que dizer não
Se lá na frente você estará na sua contramão?

De toda sede que me obrigam a ter
Te aviso que não me sacio facilmente
Não espero calmamente
Não deixo o tempo fazer hora
Seria dona de mim, mulher?
Imperatriz, força do que quer?

Mas pra que firmar meu jogo
Se me imponham a finitude?
Pra que apressar o tempo
Se meus olhos ainda piscam
E eu já o estou perdendo?

Quem entra no círculo
Tem que sentar, dar as mãos
Ou até cochichar

Quem entra no círculo
Tem que ser esperto e se levantar
Quando a cotia chegar

Quem entra no círculo está condenado a não ser único
E até insignificante
Mas também a não ser sozinho

Quem entra no círculo
Se descobre no espaço
E faz de cada rodada
O momento esperado

Quem entra, uma hora sai
Porque cansou, porque escureceu
Porque a mãe gritou

Mas o círculo não se desfaz
Sabe de outros encontros
E o círculo era o tempo
E nós os seus pontos


sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Caminhos Para(elos)

A oportunidade vem
Mesmo para quem não tem nenhum vintém
O caminho tem que dar
O nada não é lugar
Porque há sempre história para contar
E eu encontrei sentido na dor, no calo que se formou
No rastejo, na correria, no sol do meio dia
No congestionamento dos meus pensamentos
E aqui estou com um bocado de flashes, de decepções, de ilusões, de paixões e de certezas
Essa mistura eu trago nas mãos
O papel se aproveita. Deita e deleita
Mesmo com os rabiscos
É disso que ele gosta
Fiz de conta
Me virei do avesso
Não fui eu mesma
Paguei o preço
Deixei passar, deixei fazer
Me estendi
E me doei
Reconheci
E acumulei
Na hora de rir me entreguei
E essa era a lei
Aquilo tudo não seria de novo
Então, novos caminhos eu inventei
Não fui além do que eu poderia ser
Fui tudo o que cabia dentro de mim
Mas foi quando eu fui você que eu realmente pude entender
O porquê a gente vem e por quem a gente vai
E tudo fez sentido
Me completei ao redor do mundo
E o mundo agora cabia em mim


segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Untitled

Fim ou Começo?
Responda rápido!
Eu ainda estou pensando...
De repente me vi sem aquele peso

Fantasias e loucuras
Retidas nas palavras
Eram os meus sonhos quase pueris
Demarcados pela tua presença

Firme, impregnado
Ressurgia sua lembrança
Encarcerada eu me sentia
Detinhas a chave da minha liberdade e nem sabias

Fui fundo e perdi minhas asas
Reneguei o juízo e a coragem
Eu me segurei no suspiro e do
Desespero só você me salvaria

Faltei à aula do esquecimento
Recebi o meu salário
Enovelada até não poder mais
Dentro daquela trama eu colecionava lágrimas

Fatos e memórias eu guardei num
Relicário que só eu mexia
Estava lá uma de suas faces
Dentro de frases mal construídas

Fogo que se consumia enquanto
Eu remontava meu quebra-cabeça
Era o trio da alegria
Dentro de um teatro de sombras

Foi quando falei
Resoluta eu lhe dizia
Eu estava feliz
De um modo que nem eu mesma sabia

Falar me fez lembrar do encanto
Responsável pelo meu pesadelo
Escolhi as mais sinceras sensações e
Dentro do seus olhos eu as coloquei

Fechei aquela porta
Resolver está no FIM
Eu até me lembrei do começo, mas apaguei aquela luz
De súbito encerrei também seu nome.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Filho é bagunça?

Por que fez chorar se sabia que não ia durar?
Por que fez de conta que fez
Para depois voltar?
Não me venha jogar na cara, a fim de que eu engula, esse jeito insosso que eu detesto.
Não diga que pensou direito
Não terá sempre essa oportunidade
O que te move? O que te trouxe?
Entras pela porta, mas eu já não sinto nada.
Conta coisas novas, continuando nossos planos
Mas não sei se ainda são os meus.
Sorri para mim e para o programa que passa na TV
Mas já não acho graça.
Sem emoção, reconheço sua presença
Será que ela é mesmo boa?
Agiste como chuva fina e passageira
Não perturbou o sono
Não fez florescer o campo
Não desmoronou quase nada
E passou
O meu olhar distraído só consegue fixar em seu rosto para visualizar suas incertezas e a sua relativa inércia.
Tudo bem, porque não está mal.
Mas tudo ainda tão significado para este sujeito
Para este "EU" que você nem viu quando resolveu partir.