quarta-feira, 31 de agosto de 2011

A Ribeirinha

No moinho do tempo se encontraram. Descobriram que tinham sede da mesma água e compartilhar anseios e segredos foi fácil. Entre eles, sobre eles, o indizível, já imaginado, pairava, dissolvia-se nos lampejos das palavras. E hora foi agradável. E hora foi amargo para ela deixar-se saciar.
Não importava o que ela sentia, pois as águas já lhe faziam falta.
"São insalubres, menina!" , alguém dizia. Mas já eram tão assediadas, reconhecidas e dignas de um pergaminho como as de Douro e Minho.
E as águas corriam...
Sentia o encontro do Negro com o Solimões, da pororoca não esquecida.
É Festa das Águas, menina! É tempo de Boi!
Tudo era novo, mas tratava como se já soubesse das artimanhas daquilo que também pode ser avassalador, um Nilo de surpresas em sua cheia ao Termidor. Acreditava ver naquilo tudo o sentimento aspirado com fervor. Tinha que ser, só podia ser Amor. Manso, acolhedor, interior.
E era no São Francisco que repousava o seu frescor.
E ficou grande, maior do que ela e dolorido. Dor no veio, sangue na pedra, que a torrente levou.
 Mas se ele voltasse era surpresa.
 E se ainda a quisesse era alegria.
 E era o Amazonas que luzia! E do alto era o sinuoso que se via.
 Ela não queria outro. Pediam cuidado, pois era de lá que o boto ressurgia. Pois foi que na brincadeira afogou-se um coração. Nas águas ainda jaz, até que desague e quiçá se encontre nas mãos de um pescador, o pequeno coração da menina, da ribeirinha ávida de amar.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Pequena

As palavras se emancipam quando saem dela. Mas ela continua pequena, presa nos retalhos da condição humana. E se escreve é para ver se o infinito a convida para dar um passeio. Nas mãos que deslizam uma caligrafia que nunca fora bonita sente aquilo que transcede e que voluntariamente chamamos de palavras a conduzir, ainda garotinha, para um lugar aonde pode colocar os seus sentimentos no chão e brincar com eles.

E aí é céu no chão! E é não ter mais chão nos pés!

A "cursiva" e a de "forma" misturadas e até ilegíveis formam aquilo que quer contar, que quer sussurrar, que quer ter, que quer sambar.
E é do desalinho, do mezanino do seu coração que ela escreve.
E é do todo que ela fala
E o todo é o que ela quer
O todo é o que ela é
Porque é pequena sim, mas não é pedaço.


domingo, 28 de agosto de 2011

Uma nova experiência

As palavras e seus encantos. E um amor especial foi surgindo. Nas pautas de papéis avulsos me descubro, numa atividade do "velo e desvelo" cotidiano, e apesar disso nunca sei de fato quem sou, um definição pronta, acabada  e para falar a verdade, acho que nem tenho essa pretensão. Não acredito no limite, talvez seja por isso. E se é nas citações que encontro o prazer da reflexão, usaria as palavras de Kosellek para ilustrar o meu pensamento: "Só é passível de definição aquilo que não tem história." Histórias... tenho algumas para contar e aventurar-me na escrita de um blog é repassar memórias e lembranças, é expandir as minhas experiências, é compartilhar aquilo que me move. Não deixarei o papel, meu fiel escudeiro. Escrever aqui é dar asas às minhas palavras ou às palavras dos outros, porque mágicas elas já são e ao infinito elas já pertencem.