Repousa no silêncio, no olhar distraído vislumbrando o nada, aquela existência inaudível no meio da multidão. Ele reporta-se as suas lembranças.
Lembranças: aquilo já não é
É porque se gosta
É porque marcaram
É porque ainda significam
Que as mantemos indeléveis em nossa mente
E quando se quer ou até quando não se quer, e nem se percebe, volvemos a elas.
Alegrias, gestos, palavras, canções, rostos e deflagrações
O sol que nasceu. A chuva que desceu
A criança que gritou. O vizinho que brigou
O beijo com ardor. Aquele professor
A volúpia na cama. A dor de quem ama
A fala sem pausa. O dia do silêncio
A mão que se estendeu. O vão que se deu
A lama e a mala
A vida e a morte
A saudade
Do que você lembra?? Do que quer lembrar?
Tem gente que deixa de viver, amargando as dores do passado
Tem gente que deixa de querer, querendo o passado.
Uma volver contínuo, por vezes insípidos.
Um volver esmaecido, querendo o calor do que já está adormecido.
O Volver de Gardel, com sua alma apegada a uma doce memória.
O Volver de Almodóvar e de suas inebriantes mulheres, na fibra e no osso.
O volver da menina, de sonhos pueris, que se vê envolvida em uma trama infeliz.
O volver do gajo, de jeito quieto, na beira do Tejo, pronto a pular.
O mal resolvido está na memória e a ela dilacera.
Sem demora, é preciso volver, revolver o passado, enxergar suas tramas.
Retorne para elaborá-lo na minúcia do pensamento. Para ressignificá-lo.
Às lembranças, dar a leveza que merecem.
Porque o problema não é voltar. É querer ficar por lá. É enovelar-se e não mais conseguir sair.
Retorne e tenha a capacidade de lembrar e de esquecer.
Retorne para também redescobrir o "viver por vários motivos"
Volver para perceber que só o presente ainda existe.
Nenhum comentário:
Postar um comentário